A Doença Celíaca é o resultado da interrelação entre a ativação da resposta imune celular mediada por células T (inflamação) e a resposta imune humoral mediada por células B (produção de auto-anticorpos) mediante a exposição ao glúten em pessoas geneticamente predispostas.
Esta doença tem uma prevalência média na ordem de 2% da população em geral.
Há grupos de risco, onde a incidência é mais elevada do que a da população geral: parentes de primeiro grau de pacientes celíacos, diabetes mellitus tipo1, certas síndromes como síndrome de Down, Turner e Williams, doenças autoimunes de tiroide e fígado, e pacientes com deficiência de IgA.
A Doença Celíaca é uma doença subdiagnosticada. Pensa-se que apenas cerca de 10-15% dos doentes celíacos estão diagnosticados, o que representa um importante problema de saúde pública.
Esta doença é caraterizada por lesões intestinais inespecíficas que perturbam a absorção de nutrientes, devido à atrofia das vilosidades intestinais.
A eliminação do glúten da alimentação permite que o intestino regenere da lesão e o organismo recupere. Contudo, se houver reintrodução do glúten, as inflamações regressam e os sintomas reaparecem. Um diagnóstico atempado é de extrema importância, pois o quadro clínico vai piorando com a continua exposição ao glúten, podendo surgir complicações irreversíveis.
As manifestações clínicas podem aparecer em qualquer idade ainda que sejam mais frequentes na infância após a introdução das papas na alimentação e na adolescência, mas também pode aparecer na idade adulta.
Sintomas mais comuns na criança celíaca
Diarreia crónica ou prisão de ventre alternadas, repetidas dores abdominais, perda de apetite, gases e cólicas intestinais, fezes malcheirosas e pálidas, fadiga e falta de energia, anemia inexplicável, atraso no crescimento, cãibras musculares, dores ósseas e articulares, erupções dolorosas na pele.
Sintomas mais comuns no adulto celíaco
São muito variáveis e inespecíficos, não sendo necessariamente proporcionais ao grau de atrofia das vilosidades ou à extensão do envolvimento intestinal. Podem confundir-se com outras doenças como a dispepsia funcional ou síndrome do cólon irritável.
Os sintomas gastrointestinais são os mais comuns: diarreia, esteatorreia, flatulência, podendo também ser acompanhados por perda de peso, anorexia, náuseas ou outros sintomas extraintestinais: dor óssea que pode ser confundida com dor reumática, anomalias dentárias, urticária, dermatite herpetiforme, pele seca, calvície precoce, menopausa precoce, infertilidade, depressão.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da Doença Celíaca não é fácil, depende da combinação de 4 elementos fundamentais que são:
– Os sintomas clínicos associados à sensibilidade ao glúten;
– Os níveis de anticorpos específicos da Doença Celíaca;
– Presença de HLA-DQ2 e/ou HLA-DQ8;
– As alterações características na biópsia duodenal.
TRATAMENTO
A exclusão rigorosa do Glúten da dieta reverte o quadro clínico e as lesões da mucosa, na maioria dos doentes. Em casos raros é necessário terapêutica imunossupressora. A dieta sem glúten deve ser mantida para toda a vida.
Em geral, os níveis de anticorpos normalizam 12 meses após o início da dieta sem glúten. A monitorização é feita com a determinação anticorpos Anti-transglutaminase IgA após 6 a 9 meses o início da dieta.
O glúten do trigo pode estar presente em vários produtos alimentares e farmacológicos. Uma dieta sem glúten não é um regime alimentar fácil de seguir.
A Associação Portuguesa de Celíacos ( APC) em www.celiacos.org.pt disponibiliza informações importantes sobre a doença. Esta associação dá apoio aos doentes celíacos tornando a sua vida mais fácil.
Por Idalina Melfe (Especialista em Análises Clínicas)